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Só mais 10 minutinhos, pode ser?

Atualizado: 6 de set. de 2022


A semana começa transbordando ansiedade. "Não dormi bem" é a resposta dos jovens que estão em medida socioeducativa dentro da unidade. Sim, eles estão presos, cumprindo a medida, se responsabilizando pelo que fizeram em desacordo com a lei e a sociedade e para com eles mesmos.


Não dormir, acordar cansado, querendo mais 10 minutinhos parece comum para você que está livre? Você está LIVRE, né, e por motivos diversos dorme bem. Às vezes, até falamos ter dormido, porém amanhecemos cansados, sinal de que o sono não foi reparador.


Para eles, os jovens que estão dentro das unidades, a ansiedade domina por não verem a hora de sair e voltar para sua rotina, ainda que tumultuada, suas relações, famílias, amigos, escola e afazeres. Uma rotina como qualquer um de nós, e não nos cabe julgamento.


Vamos à unidade uma vez por semana e ficamos com cada turma de até 16 meninos por uma hora na oficina de meditação, um momento de pausa na vida, como eles dizem. Pausa nos pensamentos, nas preocupações e na ansiedade.

- Professora minha mente parece vazia - diz um com os olhos cheios de lágrimas. É como se ele estivesse entrando em contato com ele e suas emoções pela primeira vez, aos 16 anos, no seu primeiro dia na oficina.


O que respondemos? "Somos todos iguais, vocês aqui sem liberdade física, e nós lá fora presos em nossa rotina. Somos iguais, seres humanos iguais com oportunidade e trajetória diferentes."


"Quando vocês estão lá fora também ficam ocupados, o tempo todo, produzindo barulho para a mente e corpo como qualquer ser vivente. Todos vivemos na roda viva , fazemos muito e ainda achamos que é pouco, que fracassamos, que nos falta sucesso, dinheiro, coisas e relações perfeitas e seguimos sem clareza do que é essencial para a vida ou para o momento.


Sempre falta tempo para descanso, físico e mental. O final de semana é pequeno para as supostas diversões e não priorizamos o descanso, tipo mente quieta, corpo relaxado e observação das emoções.


Vamos! por hoje terminamos."


Professora, podemos ficar mais 10 minutinhos?

Silêncio total, sem música e sem palavras, nos sentamos e juntos simplesmente respiramos. A respiração é tão profunda que dá para escutar, querendo experimentar mais um pouco aquele gostinho de "liberdade".


Contando nos próprios dedos, para não se distrair, eles inspiram e expiram de olhos fechados e relaxados no tatame, para admiração dos agentes de segurança que os acompanham.


Escrito por Francisca Vale

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